Ela estava sentada na cama. Tentava relaxar. Tinha
acordado no meio da noite, isso agora era algo que sempre acontecia. Nem sempre
ela conseguia voltar ao sono. E, naquela noite, ficara completamente desperta.
Por pior que seja, é pior quando ela revive durante
o dia as cenas que passou. Quando está no mercado e a vê, está no caminho de
casa ou do trabalho e ele não a deixa passar. Sem fazer barulho, mas sempre a
observando.
Às vezes não é fácil. Não conseguir andar pelas ruas
sem olhar por cima do ombro para ter a certeza de que ninguém está à espreita.
Nas poucas noites em que ela consegue dormir, nos
seus sonhos, ela revive tudo aquilo pelo qual passou, e o que lhe parece ser
mais triste... Ninguém vem ao seu auxilio.
Ela agora sabe, conhece as conseqüências de quem
sofreu um abuso sexual. Como muitas mulheres pelo país que enfrentam a depressão, o medo, a vergonha,
a culpa, o isolamento, o desamparo, e o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Agora ela conhece bem a mente, e os sentimentos de
muitas mulheres que apresentam algum tipo de disfunção sexual e um déficit ou
dificuldade quanto a relacionamentos sociais. Agora ela sabe que pode ser
resultante de uma violência sexual na infância. Agora ela sabe que essa violência
pode levar a um desenvolvimento de um distúrbio psicológico na idade adulta.
Com ela não ocorreu na infância. Foi mais recente.
Mas as circunstâncias não importam quando se trata de um estupro. A violência
marca a mente de quem é vítima.
O que ela sabe é que agora, ela não tem mais a menor
paciência. São tantas as coisas lhe deixam com raiva. Coisinhas pequenas, que
não significam nada, mas que, por algum motivo, significam.
Seu nome não é Tamar, mas o que lhe acorreu,
aconteceu também na família do rei Davi: “Absalão, filho de Davi, tinha uma
irmã muito bonita, que se chamava Tamar. Outro filho de Davi, chamado Amnom,
apaixonou-se por ela. Ele estava tão apaixonado, que até ficou doente. Amnom
pensava que era impossível possuir a sua meia-irmã; ela era virgem e por isso
não tinha o direito de se encontrar com nenhum homem. Mas Amnom tinha um amigo
muito esperto, chamado Jonadabe, filho de Siméia, irmão de Davi.
Jonadabe disse a Amnom:
- Você é filho do rei e, no entanto, cada dia está
mais triste. Diga-me por quê.
É que estou apaixonado por Tamar, a irmã de Absalão,
o meu irmão por parte de pai! – respondeu Amnom.
Então Jonadabe disse:
- Finja que está doente e vá se deitar. Quando o seu
pai vier, diga a ele: “Por favor, deixe que a minha irmã Tamar venha me dar de
comer. Que ela prepare comida aqui onde eu possa vê-la e que ela mesma me sirva
a comida”.
E Amnom se deitou e fingiu que estava doente.
O rei Davi foi visitá-lo, e Amnom disse:
- Por favor, deixe que Tamar venha e prepare alguns
bolos aqui onde eu possa vê-la, e que ela mesma os sirva para mim.
Então Davi mandou dizer a Tamar, no palácio:
- Vá à casa de Amnom e prepare alguma comida para
ele.
Ela foi e o encontrou de cama. Ai pegou um pouco de
bolo ali onde ele podia vê-la. Então assou os bolos e os tirou da forma para
Amnom comer. Mas ele não quis e disse:
- Mande todo mundo sair.
Todos saíram. E Amnom disse a Tamar:
- Traga os bolos aqui para a minha cama e sirva-os
para mim.
Então ela
levou os bolos para ele.
Quando os ofereceu a Amnom, ele a agarrou e disse:
- Deite-se comigo, minha irmã!
Porém ela respondeu:
- Não meu irmão! Não me obrigue a fazer isso! Não se
faz uma coisa dessas em Israel. Não faça essa loucura! Como eu poderia aparecer
depois disso diante dos outros? E você ficaria completamente desmoralizado em
Israel. Por favor, fale com o rei, e eu estou certa de que ele me dará a você.
Mas Amnom não quis ouvir o que Tamar dizia. E como
era muito forte, ele a forçou e teve relações com ela.
Depois teve nojo dela e a odiou ainda mais do que
tinha amado antes. Então disse:
- Saia daqui!
Tamar respondeu:
- Não, meu irmão! Você me mandar embora assim é um
crime ainda maior do que o que você acaba de cometer!
Mas Amnom não quis escutar o que ela dizia. Chamou o
seu empregado particular e disse:
- Tire essa mulher da minha frente! Ponha-a para
fora e feche a porta!
Então o empregado pôs Tamar para fora e fechou a
porta.
Ela estava usando um vestido longo, de mangas
compridas – roupas que as princesas solteiras usavam naquele tempo” (2 Samuel
13. 1-18).
Muitas mulheres vivem dirigidas pela culpa. Passam a
vida fugindo do remorso e da culpa. São manipuladas por suas lembranças.
Permitem que seu passado controle seu futuro.
Nossa personagem está descobrindo que embora sendo
produto de seu passado, ela não tem que ser prisioneira dele. Pois Deus é
especialista em dar as pessoas um novo começo. Ela está descobrindo que: “Ficar
desgostoso com o passado e amargurado é loucura, é falta de juízo, que leva a
morte” (Jó 5. 2).
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