Nem sempre o que as
pessoas dizem é o que de fato querem dizer.
É possível alguém
dizer que odeia quando o que gostaria de dizer na verdade é que ama muito, mas
por algum motivo, naquele momento não foi possível.
Um novo dia
começou, mas onde estava aquele companheiro que sempre ia aos campos para jogar
bola? Que lhe tomava as mãos para atravessar as ruas? Que o colocava nos ombros
e ele sentia como se estivesse voando? Que em alguns momentos ele se deitava
sobre a barriga e juntos assistiam a um desenho na TV?
Esse já não estava
ali. E ele sentia falta.
Lembrava-se de
momentos em que de pijamas brincava no quarto com seus carrinhos, e por ser
criança nem se dava conta dos sentimentos de seu pai. De como com seu sorriso
podia conseguir quase tudo.
Naquela época ele
não se dava conta de que era dono do coração de seu pai e de como alegrava sua
existência.
Mas o tempo foi
passando e entre as brincadeiras e seus deveres de casa, ele foi crescendo tão
depressa. Algo que seu pai não tinha como deter. A única certeza que seu pai
tinha era que um dia ele sairia de casa. E entre as coisas que ele levaria
estaria um pedaço de sua própria vida, um pedaço que jamais voltaria. E por
isso seu pai procurou lhe dar amor e atenção. Procurou ensinar-lhe sua
importância no mundo, mostrou o seu valor. Tentou cuidar do seu coração para
que não se decepcionasse com a vida.
Mas o tempo passou
tão depressa... Se fosse possível voltar...
Mas não é!
Como diz o ditado: “Se
arrependimento matasse...” Com certeza ele já estaria morto. Sentia falta de
seu pai.
Certo dia, já
adulto ele havia brigado com seu pai. Decidiu que sairia de casa. Era uma
questão “idiota” como ele mesmo falava. Mas que foi a causa de sua saída de
casa. Algo que ele gostaria de não ter feito na verdade. Mas que naquele
momento ele não soube evitar.
A única certeza que
esse jovem tinha era aquilo que seu pai lhe havia ensinado acerca de Deus: “Não
vos deixarei órfãos” (João 14. 18).
Seu pai não estava mais
presente para lhe confortar, para lhe direcionar, para ser seu amigo quando ele
precisasse. Mas uma coisa que seu pai lhe ensinou era que poderia confiar
sempre em Deus, pois esse jamais iria abandoná-lo. E era nessa palavra que hoje
ele se apoiava.
Sobre a cabeceira ao
lado da cama estava sua Bíblia, ele a tinha lido na noite anterior. Estava
aberta e ele a pegou. Seus olhos se fixaram num texto onde estava escrito: “Deixa os teus órfãos,
eu os guardarei em vida; e as tuas viúvas confiem em mim” (Jeremias 49. 11).
Ele colocou a Bíblia de volta no lugar e
voltou a deitar sua cabeça no travesseiro. Olhou para o teto branco e ali ficou
a meditar.