O cavalo cruzou o
vale em trotes lentos. Abriram caminho por entre as árvores e chegaram a um
local onde um riacho cortava aquele vale.
O homem vestia uma
calça de brim desbotado, uma camisa vermelha larga, com estampas xadrez grande
e um chapéu branco, nos pés usava uma botina marrom. Então apeou e conduziu o
cavalo até aquele riacho.
O cavalo bufou. Era
como se estivesse alegre em ter parado ali e está sendo conduzido até aquele
riacho de águas frescas.
O homem pegou o seu
cantil que estava no alforje, junto à sela do animal. Bebeu um gole de água e
olhou para o céu. Não estava um dia ensolarado, e ele deu graças a Deus por
isso.
Por um momento
ficou admirando o local. Um vale de mata verde, cujo tom se misturava entre
claro e escuro. Algumas flores campestres e árvores que deixavam suas sombras
refrescarem aqueles que por ali paravam. Era verdadeiramente um lugar muito
bonito. Uma verdadeira obra prima feita pelo criador. Como está escrito: “Os céus
proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Salmos
19. 1).
Ele colocou
novamente o cantil no seu lugar. Esperou o cavalo terminar e o conduziu pelas
rédeas até uma árvore onde as amarrou em torno dela.
Tirou o seu chapéu
e se deitou por algum tempo ali naquele campo verdejante. O som das águas o
deixou relaxado. Era tudo o que ele precisava naquele momento. Um lugar onde
pudesse meditar e ao mesmo tempo desfrutar literalmente daquilo que ele
considerava o seu Salmo favorito. O Salmo 23: “O Senhor é o meu pastor; nada me
faltará. Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda
que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu
estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante
mim na presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice
transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias
da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias”.
O que parecia um
sonho se tornava uma realidade tanto objetiva como subjetivamente na vida
daquele homem. Ele havia sido levado até um lugar de águas tranquilas e agora
estava deitado em pastos verdejantes. E enquanto desfrutava disso tudo, sentia
sua alma ser refrigerada com a certeza de que Deus era o seu pastor e isso o
confortava. Ele não sabia se havia algum inimigo em sua vida. Talvez sim, ou
pode ser que não, pois a natureza humana é egoísta e invejosa, mas algo que ele
tinha certeza era que continuaria a ser bondoso e misericordioso dentro de suas
possibilidades.
Enquanto ele
meditava, seu cavalo bufou, e esse foi o último som que ele ouviu antes de cair
num leve sono.