Acompanhei a enfermeira corredor
abaixo, mas sentia-me meio desanimada. Era uma tarde quente e úmida, o ar
cheirava a remédio. De repente, tive vontade de não ter ido até ali. Uma hora
antes, tinha-me convencido de que precisava trabalhar mais para o Senhor. Telefonara
para o asilo de velhos, para saber se havia alguém ali que nunca recebia
visitas.
Agora entrávamos em um quarto, e
a enfermeira disse com voz alegre:
- Agnes, trouxe uma visita para
você.
Deitada no leito, estava a
velhinha mais feiosa que eu já vira. Seu rosto era muito enrugado, a pele
amarelada, e quando falou, notei que só tinha dois dentes de resto.
- Você é do Serviço Social?
Indagou.
- Não. Só vim fazer-lhe uma
visita.
- Mas você não me conhece.
- Agora já conheço. Meu nome é
Linda. Como está passando hoje?
- Não estou muito bem.
- Então fique bem quietinha aí,
que vou ler para você.
- O que você vai ler?
- A Bíblia.
- Ué, já é Natal?
- Não, por quê?
- Porque no Natal sempre vêm
pessoas aqui que leem a Bíblia para mim. Depois vão embora e dizem que voltarão
qualquer dia, mas nunca mais voltam. Pensei que você fosse uma dessas pessoas
da igreja.
Então pus-me a ler a Bíblia, e
ela pareceu gostar muito da atenção que lhe dei. Resolvi, não sem certa
relutância, que iria esforçar-me para voltar ali.
Da outra vez, trouxe-lhe alguns
bombons. Gostou demais, apesar dos dois dentes. Nas outras visitas que fiz,
levei-lhe flores de meu jardim, cartões que meus filhos confeccionavam para ela
e um laço de fita para o cabelo. Às vezes dava uma passada rápida, para um
breve bate-papo. Aos poucos, Agnes começou a interessar-se pela minha família.
Então levei meu marido e os três filhos adolescentes para visitá-la. E
continuei a ler a Bíblia para ela, poucos versos de cada vez.
Quando fiquei sabendo que estava
para morrer, procurei passar mais tempo em sua companhia.
Certo dia, estava lendo o
capítulo quatorze de João: “Na casa de meu há muitas moradas... Vou
preparar-vos lugar...” Quando ergui o rosto, vi que seus olhos estavam
fechados, então comecei a afastar-me na ponta dos pés.
- Espere! Disse ela. Volte aqui.
- Estou aqui, Agnes. O que é?
- Linda, falou ela, será que
Jesus está mesmo preparando um lugar para mim no céu?
- Se você crer nele, Agnes, está.
E você crê, não crê?
- Agora, creio. E sei que ele me
ama. Você e sua família me mostraram isso.
Peguei na mão dela e dei-lhe um
leve aperto.
- Como assim, Agnes? Como foi que
mostramos?
- Você voltou, respondeu
simplesmente, e caiu no sono.
Linda Schiwitz
História verídica extraída do livro:
Conte Comigo.
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