Observei a foto. Os
olhos eram a parte mais desagradável. Vidrados e perdidos, fitando a câmara sem
firmeza. Era a foto de alguém no fundo do poço.
Não tem nada que
alguém possa fazer sobre o passado. A não ser deixá-lo onde está.
Às vezes não
podemos fazer nada para mudar os erros que cometemos no passado. Às vezes a
força do perdão nos ajuda a aliviar a dor. Mas isso só acontece quando o perdão
é mais do que um esticar de mão. Quando ele sai da revelação de um coração que
se faz cúmplice no olhar.
“No passado, todas
as coisas valiam muito para mim, mas agora por causa de Cristo, considero que
não tem valor algum” (Filipenses 3. 7).
A verdade é que
todo mundo quer tirar vantagem de alguma forma. E nesse tirar vantagem muitas
regras são quebradas, muitas leis são desrespeitadas, muitas almas são
massacradas. Pois no desejo bestial de se ganhar o mundo, o indivíduo acaba
perdendo sua alma: “Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, e
perder-se, ou prejudicar-se a si mesmo?” (Lucas 9. 25).
Como o apóstolo
Paulo, o indivíduo que deseja sair desse mundo infernal que é a culpa e o
sentimento de culpa por aquilo que ele realizou, precisa reconhecer que há
alguém interessado em aceita-lo ao seu lado, quando chegar a hora da ressurreição
que acontecerá num futuro não muito distante. O apóstolo Paulo disse: “Tudo o
que quero é conhecer a Cristo e sentir em mim o poder da sua ressurreição”
(Filipenses 3. 10).
Enquanto caminha
nessa jornada em direção a esse dia, o apóstolo procura esvaziar sua mente
daquilo que o atormenta, daquele sentimento culposo que é capaz de aprisionar
qualquer pessoa dentro de uma foto que eternizará a expressão da culpa sem
perspectiva de esperança.
“Porém uma coisa eu
faço: esqueço aquilo que fica para trás e avanço para o que está na minha
frente” (Filipenses 3. 13).
Esse avanço para
frente significa ir de encontro “a nova vida para a qual Deus me Chamou por
meio de Cristo Jesus” (Filipenses 3. 14).
A nova vida nos
ensina a viver um dia de cada vez. Sem ansiedade, sem pretensão de levar
vantagem em tudo. Sem querer ser em tudo o primeiro.
A nova vida nos
ensina que o passado serve apenas como um referencial de experiência para nos
mostrar que muitas vezes nossos desejos estão plantados em nosso coração. Mas
nos lembra também “que enganoso é o coração”.
É no momento em que
esses desejos vão ganhando grandeza é que começamos a atropelar e inverter os
valores daquilo que realmente importa.
Passei a foto de
volta, e ele a guardou no bolso.
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