Falar de perdas não é tão simples,
principalmente em uma era onde há um verdadeiro culto ao consumo. A teologia
pregada nas igrejas de nosso tempo dão grandes ênfases às possibilidades do ter
e ao sucesso. Fazendo com que as pessoas busquem desenfreadamente o sucesso,
querendo luzes para si para poder mostrar o que elas possuem.
Todavia, o Evangelho vai na contramão desse
discurso e o cristão é chamado a sinalizar essa mensagem de Deus.
Vejam quantos medos estão relacionados à
perda, temos medo de envelhecer, medo de viver, medo de morrer, e tudo isso
relacionado ao medo de perder.
O ciclo da vida nos colocará diante de todas
essas situações. Serão momentos de perdas e de crises. Mas são momentos que se
vivenciados de forma saudável, produzirá crescimento e descobertas de novas
oportunidades. Ou se vivenciadas de forma não saudável, produzirá fechamento, destruição
e morte.
Uma pessoa adulta que se recusa a assumir o
processo de maturidade sempre terá uma atitude infantilizada. Sempre quererá
unir-se aos adolescentes, vestir-se como eles e fugir em assumir seu papel de
referencial para os mais jovens.
Como eu disse na postagem anterior: “Perdas
fazem parte do processo de nossa existência”. Está inerente ao processo do
viver do ser humano. Na Psicanálise o luto é caracterizado como uma perda de um
elo significativo entre uma pessoa e seu objeto, portanto, um fenômeno mental
natural e constante no processo de desenvolvimento humano.
Jesus nos diz que para seguí-Lo temos que
abrir mão de muitas coisas, e entra essas coisas está a nossa própria vida,
leia Lucas 17.25.
Negar a perda é fugir da realidade, portanto
é preciso refletir o quanto estamos negando essa realidade. Negar as perdas é
negar a morte, não somente a física como aquelas que temos em nosso dia-a-dia.
Nossa existência não é uma linha reta,
existem altos e baixos, existem curvas, e precisamos aprender a lidar de forma
saudável com isso. E isso não nos afasta de Deus, pelo contrário, se tivermos a
capacidade de incorporar as perdas em nossa vida de forma saudável, teremos
maior compreensão e experiência do grande amor de Deus. Pois quando somos
capazes de incorporar as perdas e as crises sabendo como lidar com elas, e
compreendendo que elas fazem parte de nossa vida, temos a oportunidade de optar
em querer continuar vivendo.
Sempre temos de escolher entre um e outro
caminho. E muitos morrem existencialmente quando ficam presos ao luto do qual
não querem se afastar.
As reações comuns ante as perdas são a
negação e a incredulidade. São as primeiras atitudes, mas, que se espera que
não durem muito, pois, a própria realidade deve nos ajudar a reconhecer que o
que aconteceu é real e não uma fantasia. Nesse momento é comum sentir angústia,
ter alteração no comportamento, haver uma desorganização pessoal, levando até
mesmo a uma somatização, devido as grandes emoções internas.
Diante de tudo isso a pessoa tem o direito de
manifestar a sua dor e seus sentimentos, e não necessariamente implica em
passar por essa etapa em resignação e silêncio. Para vivenciar este momento e
passar por essa etapa a pessoa tem o direito de manifestar sua dor, sua raiva e
seus sentimentos. Aquele que pede para que a pessoa não chore esta impedindo
esse direito que é do outro, e que faz parte do processo de perda. Isso será
útil para a superação e na aprendizagem de lidar de forma saudável com a perda.
E a superação necessita de tempo.
A Psicologia nos ensina que há cinco fases no
luto, são elas: primeira fase, a negação, como já vimos. A segunda é a fase da
raiva, onde a pessoa expressa raiva por aquilo que ocorre. A terceira é a fase
da negociação, essa negociação geralmente acontece dentro do próprio indivíduo
ou às vezes voltada para à religiosidade. É uma tentativa de fazer com as
coisas possam voltar a ser como antes. Promessas, pactos e outros similares são
muito comuns e muitas vezes ocorrem em segredo. Na pratica a coisa funciona
mais ou menos assim: Rezar e fazer um acordo com Deus. Buscar agradar, se for
um caso de uma traição, e ter pensamentos do tipo: “Vou acordar cedo todos os
dias, tratar bem as pessoas, parar de beber, procurar um emprego e tudo ficará
bem”. A quarta fase é a fase da depressão, nessa fase ocorre um sofrimento
profundo. Tristeza, desolamento, culpa, desesperança e medo são emoções
bastante comuns. É um momento em que acontece uma grande introspecção e
necessidade de isolamento. A pessoa quer chorar, afastar-se dos demais, e ter
comportamento autodestrutivo. É comum ter pensamento do tipo: “Eu me odeio”. E
por fim vem a fase da aceitação, onde se percebe e se vivencia uma aceitação do
rumo das coisas. As emoções não estão mais a flor da pele e a uma prontificação
a enfrentar com consciência as suas possibilidades e limitações. A pessoa busca
ajuda para resolver a situação, conversa com outros sobre o assunto e planeja
estratégias para lidar com a questão. É comum ter pensamentos do tipo: “Não é o
fim do mundo”, “Posso superar isso”, e assim por diante.
Mas como já vimos anteriormente, as pessoas
não passam por essas fases de maneira linear, ou seja, elas podem superar uma
fase, mas depois retornar a ela, aquele famoso ir e vir, outros podem estacionar
em uma delas, sem ter avanços por longo período ou ainda suplantar todas as
fases rapidamente até a aceitação. Não há regra. Tudo depende do histórico de
experiências da pessoa e crenças que ela tem sobre si mesma e sobre a situação
em questão.
Tem pessoas que podem passar meses ou anos
num vai e vem e não chegar a aceitação nunca. Tem pessoas que em poucas horas
ou dias fazem todo o processo, isso varia também em função da perda sofrida
pela pessoa.
Seja como for, a questão deixada pelas
Escrituras é a seguinte: “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum
aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do
que podem suportar” (1 Coríntios 10:13).
A tentação aqui não é a perda e sim a vontade
de se deixar dominar por ela e não a enfrentar de forma saudável.