Quero trazer um assunto do qual o mundo tem insistentemente
procurado trabalhar para que possamos esquecer: o limite humano. Tudo ao nosso
redor trabalha para que possamos nos sentir poderosos, autossuficientes e
onipotentes.
Muitos chegam mesmo a acreditar que podemos
driblar a morte, e alguns grupos religiosos associam as perdas ao pecado e ao
distanciamento de Deus.
Vivemos em um mundo que nos ensina a buscar
sempre ganhar, vencer e lucrar. Todavia a vida irá sempre nos apresentar muitos
momentos de perdas, pois faz parte do ciclo natural da vida.
Nossa existência compreende um ciclo que
inclui nascimento, crescimento, maturidade e morte. E dentro desse ciclo sempre
teremos situações nas quais teremos que lidar com as perdas. Perdas dolorosas e
perdas que serão necessárias para o nosso amadurecimento.
Perdas fazem parte do processo de nossa
existência. Jesus disse que: “Se alguém não carregar a sua cruz e me seguir,
esse não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.27). Isso significa dizer que para
seguir Jesus temos que deixar muitas coisas: “Todo aquele que quiser ser meu
seguidor deve amar-me mais do que ao próprio pai, mãe, esposa, filhos, irmãos,
ou irmãs, sim, mais do que à sua própria vida...” (Lucas 17.25), Isso inclui a
própria vida.
Assim se nós conseguirmos entender que as
perdas não significam um distanciamento de Deus, como muita teologia que nada
tem a ver com Bíblia ensina, mas faz parte de nossa existência, conseguiremos lidar
com ela de forma mais saudável.
Diariamente temos que enfrentar com perdas e
ganhos. Esse é o ciclo normal da vida.
O primeiro enfrentamento de perda começa
justamente no nosso nascimento, quando temos de deixar um lugar seguro e
confortável, que é a barriga da mãe, um lugar quentinho e sermos lançados no
mundo.
A partir daí cotidianamente enfrentamos
desafios que exigem de nós respostas a essas situações. Ambiguidade que nos
acompanhará até a morte.
Na adolescência temos que enfrentar outras
perdas, como a perda do corpo infantil, a perda dos pais da infância e a perda
da identidade infantil. Isso significa que para chegarmos à fase adulta
precisamos passar por todas essas perdas e passar pela elaboração do luto do
corpo infantil.
Para ganhar o corpo e a identidade de um
homem, ou de uma mulher adulta, é preciso perder o corpo infantil. Na idade
adulta ganhamos a maturidade.
Assim é a vida, vivemos sucessivamente com
perdas e ganhos.
Jesus em um momento de angústia sentiu
vontade de fugir a uma perda, mas a elaboração que Ele fez da situação lhe deu
forças para não sucumbir aos seus desejos: “E afastando-se deles alguns metros,
ajoelhou-se e orou, dizendo: Pai, o senhor pode afastar de mim este cálice de
sofrimento, se quiser. Mas, que seja feita a sua vontade, e não a minha” (Lucas
22. 41,42).
Precisamos estar atentos a isso.