Quando olhamos para as
Escrituras, descobrimos que o perdão esta no centro de sua mensagem e da vida
cristã. Cristo não veio ao mundo para trazer consciência de culpa ao ser
humano, mas para perdoar e libertar.
No entanto, um dos maiores
problemas no ser humano e em seus relacionamentos é a questão da culpa. Essas culpas podem ser verdadeiras
ou falsas.
No universo humano existe
um intenso relato desse sentimento de culpa. E quando olhamos para dentro de
nossas igrejas, estes sentimentos tomam conotações ainda mais significativas na
vida dos cristãos.
Mas olhando por este
prisma, é por causa do sentimento de culpa que nos aproximamos de Deus e
sentimos a necessidade de arrependermos-nos de nossas faltas e nossos erros. O
sentimento de culpa está ligado a toda essa experiência que chamamos de experiência
religiosa.
A grande questão é: até onde o sentimento de culpa que
carregamos, pode nos levar a um arrependimento genuíno? E quando a culpa
torna-se um perigo para a nossa saúde psíquica e espiritual?
A culpa, segundo definição
de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, é
‘’uma conduta negligente ou imprudente, sem propósito de lesar, mas da qual
proveio dano ou ofensa a outrem‘’. Portanto implica em posicionamentos
pessoais e comunitários em relação à vida.
Precisamos, porém ressaltar
que, todos nos passamos por sentimentos de culpa constantemente. Mesmo aquelas
pessoas que não estão ligadas a um referencial religioso e de compromisso com
Deus.
Nossa primeira experiência
com o sentimento de culpa surge quando ainda somos crianças, e sempre estão ligados
às regras sociais, questões morais e
medo de perda do amor das pessoas, pais progenitores e ou responsáveis.
Este tipo de culpa é aquela que pode ser denominada de culpa funcional ou falsa:
a chamada ‘’falsa culpa‘’. É aquela culpa que advém do ser humano, de
julgamentos de outros que podem estar até mesmo equivocados.
Podemos dar os seguintes
exemplos: “Alguma coisa eu fiz errado, por isso ela foi embora’’, ‘‘Eu não
cuidei direito por isso ela morreu’’, ‘‘Eu não sou bom, por isso ela não me ama
mais’’”.
Apesar de algumas vezes
serem verdadeiras essas afirmativas, por causa de negligencias e imprudência, outras
vezes são sentimentos de culpa que não são verdadeiros. Partem de julgamentos
nossos e por causa disso alguém pode viver aprisionado num sentimento que não
condiz com a realidade. Pois não temos o controle sobre tudo, e apesar de todo
esforço empregado em uma conduta, isso não significa que tudo sairá bem.
É necessário bastante
cuidado para tratar da questão da culpa.
Como eu disse antes, todos
nós temos a propensão para tal sentimento quando nos deparamos com pensamentos
diversos dos nossos ou, quando estamos diante a possibilidade de perdermos a
pessoa amada.
E quando é preciso tomar
cuidado então?
A questão da culpa torna-se um assunto delicado quando tentamos
transforma-lo em um sentimento interminável ou afirmamos sua inexistência.
O que se considera normal é que à medida que crescemos e nos
tornamos adultos, possamos encontrar situações palpáveis que nos fazem sentir
culpados e possamos usar esse momento para reavaliarmos nossas escolhas
pessoais. Por outro lado, quando encaramos o sentimento de culpa ligado
diretamente a uma questão de valor, a culpa torna-se verdadeira. Todo valor é
verdadeiro. O problema é que os valores podem ser diferentes.
Por isso penso ser compreensível e aceitável aquilo que o apóstolo João escreveu em sua primeira carta:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar
de toda injustiça” (1 João 1. 9).
Leia também:
O Cristianismo e a Culpa - Parte 2.